segunda-feira, julho 21, 2008

HASTA LA VISTA HERMANOS

Mais uma sequência de dias corridos atrás da informação, sem “no stop”. Desta vez com direito a uma viagem á Bolívia, onde se reuniram os presidentes Lula, Chavez e Morales. Na volta, só trocando a “muda” de roupa da surrada mala, fui direto para Ouro Preto do Oeste, trabalhar na cobertura da final do campeonato Latino Americano de Motocross. No total, andei cerca de 2000 km em quatro dias.

BOLIVIA

A cidade de Riberalta, distante 100 km da fronteira brasileira ( Guajará Mirim) foi palco de um encontro de três presidentes da América do Sul. O Índio Evo Morales, o Coronel Hugo Chaves e o metalúrgico Luiz Lula da Silva. Na pauta, a assinatura de convênio para empréstimo dos brasileiros aos bolivianos de US$ 230 Milhões para a construção de uma rodovia ( 508Km) de Riberalta a Rurrenabaque, rota que vai integrar o chamado corredor norte, que nada mais são que “carreteras” que irão ligar o Pacifico ao Atlântico. Nos bastidores do encontro, muita política e jogo de interesses.

Em novembro de 2007, um avião Hércules C-130 da Força Aérea da Venezuela pousou em Riberalta, e foi recebido a pedradas, em meio a protestos de opositores do presidente da Bolívia, Evo Morales. Houve na época denuncia que o avião, com 34 militares venezuelanos estaria com um carregamento de armas. Também foram acusados de terem sido enviados pelo presidente Hugo Chávez para treinar milícias de sustentação do governo de Evo. Após decolar de Riberalta, o comandante do Hércules ainda tentou pousar em outras duas cidades bolivianas, também localizadas no departamento ( estado) do Pando, mas ambas as pistas foram interditadas por manifestantes.

As regiões bolivianas de Beni e Pando, cujos governos se opõem ao presidente Evo Morales referendaram em plebiscito ( Junho de 2008) estatutos de autonomia que o Governo da Bolívia considera "inviáveis, após serem impostos em referendos ilegais". Foram registrados diversos conflitos entre favoráveis e opositores de Morales.
Os departamentos de Beni e Pando, que fazem fronteira com o Brasil, ocupam geograficamente 25% do território boliviano, mas têm um impacto mínimo de 2,76% e 0,97% respectivamente no PIB boliviano, segundo dados oficiais.

TENSÃO

Pois bem, Lula estava em missão diplomática. Hugo Chavez foi convidado de “honra”.
Nos dias que antecederam a visita de Lula, a equipe precursora da Presidência da Republica, composta de diversos órgãos brasileiros, entre eles, a Abin, detectou a preparação de movimentos de protesto contra a presença de Chavez.

No dia da visita oficial, cheguei cedo a cidade ( dormi no Brasil todos os dias). Num lava-jato na entrada da cidade, encontrei com Cacho Vargas, deputado e líder dos separatistas no departamento do Beni. Entrevistei-o.

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Segundo Cacho Vargas, Hugo Chavez é considerado “persona non grata” pelos habitantes da região. Vargas disse ainda a este repórter, que ele foi um dos lideres do apedrejamento da aeronave venezuelana. Na rápida entrevista, Cacho disse também que os alvos do protesto era somente o Coronel Bolivariano, nada contra Lula, que era bem quisto por todos. Motos com bandeiras do Brasil confirmavam as afirmações de Vargas.

EVISTAS



Evo Morales enviou do altiplano boliviano, 20 ônibus lotados por seus apoiadores, composto por índios, cocaleros, sindicato das “carreteras” e dos mineradores, que fizeram uma grande passeata na cidade, sob o olhar vigilante do Exército Boliviano.

AUTONOMIA SI



Sob cuidados e devidamente isolados ficaram os favoráveis a autonomia da região, que em pequeno número, não conseguiram levar adiante os protestos, que, diga-se de passagem, tinha o apoio do comitê cívico de Riberalta.

Na entrada do estádio onde seria realizado o encontro, uma barreira policial com detectores de metal e bombas, só permitia a entrada dos “Evistas”. O circo foi montado para não haver “constrangimentos” para Hugo Chavez e Evo Morales.

Na chegada dos presidentes ao aeroporto de Riberalta, uma situação inusitada. Primeiro aterrisou Morales, na seqüência, a bordo de um Helicóptero, o Coronel venezuelano.



O C-130 que trazia Lula aterrisou em seguida, logo após Chavez, mas o presidente brasileiro teve que ficar na aeronave, aguardando o Bolivariano que fazia revista as tropas bolivianas e conversava com autoridades locais. Tudo sem pressa, dando um chá de cadeira (poltrona de avião) em Lula, que ficou enclausurado a bordo do novo avião, praticamente "zero-bala". Pareceu-me uma forma de dar uma “sacaneadazinha” no companheiro Lula.

ALTA TEMPERATURA




Do aeroporto, os presidentes seguiram em carros e comboios separados. No estádio completamente lotado, sob um sol de 40 graus, houve uma rápida solenidade para assinatura do convênio e uma demorada sessão de discursos dos três presidentes. E o povão, juntamente com os jornalistas, ficaram fritando os miolos naquela “Lua”.

Lula começou falando de Futebol e fez um gol de placa, conseguindo atrair completamente a atenção do estádio, onde foi muito aplaudido. Emendando o passe, partiu para a ofensiva, alfinetando Chavez, alegando que o jogo entre Brasil e Venezuela, onde o escrete canarinho perdeu por 2x0, teria sido em função do jogo ter sido nos Estados Unidos.

Lula conseguiu tirar um sorriso amarelo de Chavez. Foi ovacionado pelos presentes.

Lula afirmou no discurso que a estrada vai interligar os países, não só de forma rodoviária, mas incrementando a relação comercial e aumentando a integração cultural e esportiva.

Lula colocou a disposição do governo boliviano, uma parceria na implantação de projeto voltado para a agricultura familiar. Afirmou que a Petrobras vai ampliar os investimentos na pesquisa dos “hidrocarburetos” do país. Lideres de centrais sindicais bolivianas gritavam palavras de ordem, que eram repetidas pela multidão. “ Viva Presidente Lula....”.



Enquanto Lula discursava, não passou despercebido deste repórter, dois garotos que “furaram” a segurança rígida, composta por agentes dos três países. Na frente do palco, com cadernos nas mãos, pediam um autografo para Chavez, “ Mi presidente!!”.

O Coronel pediu aos seguranças que trouxessem a criança para seu lado e de Evo, onde conversou com o garoto e escreveu uma dedicatória para a criança ( cerca de 10 anos). Tudo sob o olhar da população, que pode ver com seus próprios olhos, o quanto o presidente é querido na terra dos opositores. Ponto para a assessoria “roja” dos bolivarianos.

Na sua vez de discursar, Chavez encarnou o espírito “parlante” de Fidel e deitou falação durante cerca de 40 minutos. E dá-lhe sol e protetor solar. Hugo cobrou de Lula a reconstrução e pavimentação da Br 319, no trecho entre Porto Velho e Manaus, que vai interligar a estrada que liga a capital amazonense à Venezuela, via Boa Vista (RR), aos países fronteiriços no Norte da América do Sul.

RONDÔNIA

Desde a primeira caravana rondoniense em busca da rota que seria chamada de estrada do pacifico, liderada por políticos e empresários, o Estado sonha com mais esta opção comercial. Pode-se imaginar o encurtamento da distância do transporte da soja que vai para o mercado asiático, via Atlântico. Alguns milhares de quilômetros e dólares de economia para os envolvidos na exportação.

Para tanto, existe a necessidade da construção de uma ponte internacional sobre o rio Mamoré, para unir as cidades de Guajará-Mirim, no Brasil, e Guayaramerín, na Bolívia. O acordo foi firmado em julho de 2007, com a obra já orçada em cerca de US$ 250 milhões. A ponte deve ser construída próxima da região dos mirantes da “pérola” do Mamoré.

A nova rodovia, de cerca de 600 km, que terá inicio ao final da ponte e vai unir-se no departamento ( estado) de La Paz com a que se origina no estado do Acre e dali seguir numa só “transoceânica” para os portos no Peru e Chile é projeto de interesse nacional e deve ser concretizado num breve espaço de tempo, cerca de 5 anos.

NA ESTRADA

Meu agradecimento a todos que ajudaram este repórter na condução dos trabalhos. A região é de dificil acesso ( a "grande imprensa" brasileira foi de avião da FAB. Chique né?) Nós, jornalistas da região seguimos de carro e comemos a poeira da estrada que em breve deve ser asfaltada. Em especial ao Consul do Brasil na região do Beni, Valciro Casara. Outra felicitação para a jornalista Minerva Souto, de Guajará Mirim, que teve que se "desenrolar" para também ser espectadora priveligiada da história.

AMIGO

Conversei por mais de uma hora com o dono do Hotel Colonial em Riberalta, onde estava hospedada a equipe precursora do presidente Lula. Um senhor de prenome Miguel, muito bom de prosa. Sobre o turismo na região, que também deve ser incrementado com o advento da estrada, o mesmo afirmou que o lugar preferido dos nativos e “estrangeiros” que visitam a cidade, é um lago extremamente piscoso, com muitos chalés no seu entorno e que fica a poucos quilômetros de Riberalta. Quem sabe não volto um dia para pescar....

Já em casa, revirando o bolso antes de seguir viagem para Ouro Preto, encontrei uma moeda de "1 boliviano" (cerca de 0,25 centavos de real). Vai para a posteridade.



ESCREVO SOBRE O LATINO AMERICANO NESTA QUARTA-FEIRA.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns Paulo, vc realmente prova que está em plena forma e, ganhamos todos que somos assíduos leitores deste blog