ENCARE SEUS MEDOS, VIVA SEUS SONHOS
Este final de semana foi de luto no motocross estadual. A modalidade que leva milhares de pessoas às pistas em todo o estado perdeu um dos seus pilotos. Roni Camurça, numeral 33, pai de dois filhos, atleta da categoria MX3.
Muitos dizem que o grande público do motocross é em conseqüência do povão que gosta de ver os tombos. Seria uma espécie de circo antigo, com gladiadores da era moderna se arrebentando para deleite da arquibancada que quer ver sangue. Falácia pura. Mas eu já ouvi esta hipótese e não foi uma só vez.
O Motocross cresceu em Rondônia por diversos fatores. Primeiramente pelo sentimento de grande família que acompanha o esporte. São 25 anos de estrada. Muito piloto de “ponta” cresceu rodeando as máquinas voadoras. O esporte passou de pai para filho. Hoje, os netos correm no meio de chaves de fendas e parafusos.
No sábado, dia anterior às provas é de confraternização entre pilotos e equipes. Colocar a conversa em dia. Falar de moto. Assar um churrasco. Compartilhar experiências. Sonhar o futuro.
Fora das pistas, o companheirismo é real e verdadeiro entre os pilotos. A rivalidade só surge quando baixa o “gate”.
Segundo fator para ser o MX ser o maior esporte do estado. A abnegação da diretoria da FMR, dos pais de pilotos, equipes e patrocinadores para fazer acontecer o campeonato. O motocross é um esporte caro. Uma prova fica por volta de 25 mil reais. O presidente, o diretor de prova, o cronometrista, auxiliares e fiscais de pista se desdobram durante dois dias, completamente ligados na prova. Entram em outra atmosfera. Todos irmanados para fazer o melhor. E assim proteger seus bens maiores, seus pilotos.
Terceiro motivo para elevar o MX como principal esporte rondoniense de exportação. As corridas em Rondônia têm excelente padrão técnico e de segurança. Todos os requisitos exigidos pela CBM – Confederação Brasileira de Motociclismo são cumpridos a risca. Área de escape, ângulos corretos para a construção das rampas de salto, presença em quatro pontos da pista de médicos e para-médicos, mínimo de duas ambulâncias, exigência de equipamentos de segurança dos pilotos, saída alternativa para casos de acidente.
Toda esta preocupação com segurança acaba refletindo num grande espetáculo de emoção e força, com os atletas se sentindo seguros para ousar, para melhorarem suas performances.
A proteção contribui também para os pilotos e suas motos literalmente voarem. Por alguns segundos se sentirem como pássaros ou anjos. Como queira. Quem ganha é o público.
Quando participei de provas sempre acreditei em dois “lemas”. Um é o que os bons pilotos são os que voltam para casa. Outro é encare seus medos, viva seus sonhos.
Um caiu este final de semana. Acidentes fatais podem acontecer. E bons pilotos podem não retornar para o lar.
A vida continua, novas corridas virão. A placa de 15 segundos vai continuar a fazer subir os giros do motor. Na ansiedade da largada, imensas descargas de adrenalina vão continuar injetando força nos pilotos. E quando o “gate” cair e num barulho ensurdecedor, os pilotos se lançarem para a primeira curva, aquela que afunila e só os sem medo saem na frente, terá continuado a prevalecer à outra. Encare seus medos, viva seus sonhos.
Em nome dos ex-pilotos que já estão de cabelos brancos, em nome dos MX em atividade, em nome das ferinhas das categorias de base ( 5 á 12), gostaria de transmitir a família Camurça, em especial a seu pai Rui, os mais sinceros pêsames e o nosso muito obrigado por ter permitido a “família motocross” ter tido entre seus membros uma pessoa arrojada, forte e companheira. Vai deixar não só saudades, mas também exemplo de como ser humilde e líder.
Em Ji-Paraná, no final deste mês, os pilotos vão retornar á pista e no melhor estilo, homenagear Roni Camurça. Valeu irmão.
terça-feira, setembro 12, 2006
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