quarta-feira, agosto 16, 2006

Cipó de Arueira

Vim de longe vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar
noite e dia vem de longe
Branco e preto a trabalhar e o dono senhor de tudo
Sentado mandando dar
e a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar

Marinheiro, marinheiro quero ver você no mar
Eu também sou marinheiro eu também sei governar
Madeira de dar em doido vai descer até quebrar
É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar

Canto Geral – Geraldo Vandré - 1968


A operação Dominó realizada pela Polícia Federal e que resultou em diversas prisões é resultado de uma investigação de pouco mais de um ano. Nosso estado tem 24 anos.

Depois dos dominós terem caído o povo respira aliviado nas ruas ( Alguns, eles próprios sabedores de seu envolvimento estão com falta de ar). Nos bairros periféricos, nas ruas e esquinas, a população já fala sem medo o nome de seus opressores. Picham cartazes, fazem piada, se referem aos envolvidos com palavras chulas, de certa forma fazendo a justiça “oral” dos excluídos.

Nos bairros, a comunidade tem noção que foram roubados, mas não conseguem mensurar o quanto é a fortuna desviada. Tem apenas noção que esta grana podia ser investida em escolas, creches, asfalto, emprego.

Há mais de 20 anos que Rondônia enfrenta este tipo de política do coronelismo, enraizado na cultura local. A assembléia legislativa já foi chamada de “Gaiola de Ouro” por Jerônimo Santana. Depois apareceu a expressão da “Republica do Caiari”. E assim o grupo político dominante cresceu. Veio a onda do interior.

Apareceu Rolim de Moura na história do Estado. O município tem a maior concentração de políticos que fizeram nome e chegaram a todos os cargos possíveis na política.

A ambição fez alguns participantes destes grupos políticos tomarem o caminho do mal.
Se apropriar de dinheiro público, fruto de recursos federais e impostos gerados pelo trabalho da população ficou banal.

Tão banal que chegamos ao ápice da uma organização criminosa estruturada, com a hierarquia de uma verdadeira família mafiosa italiana.

A “grande família” possui tentáculos em todos os poderes, em todas as esferas da administração estadual e municipais.


As conseqüências do furto seguido, anos a fio, foram a falta de educação de qualidade, hospitais superlotados, infra-estrutura básica de fazer vergonha aos visitantes (Porto Velho é líder neste quesito), esgotos a céu aberto, falta de água encanada, ruas sem calçamento (no verão poeira; no inverno, lama).

A falta de creches que acaba deixando as crianças soltas nas ruas, a mercê de toda a sorte, também é fruto da roubalheira generalizada e continuada. A população carcerária do Urso Branco, com mais de 70% de jovens entre 18 e 24 anos também se enquadra nas mazelas decorrentes do desrespeito com o trato da coisa pública.

O delegado federal Joaquim Mesquita que comandou as investigações, considerado na PF como linha dura (Em Foz de Iguaçu onde trabalhava, antes de vir para cá, cortou na própria carne prendendo 27 agentes federais envolvidos com descaminho) fez o trabalho de profilaxia que Rondônia precisava. Mas é só o começo do tratamento.

Fazendo uma analogia com a odontologia, o cidadão "Rondônia" estava com uma tremenda dor de dente, infecção generalizada, supurado em quantidade. Vermes já se formavam. Foi necessária uma intervenção de vários cirurgiões, chamados às pressas de vários estados. Fizeram a operação para salvar o jovem “Rondônia”.

Agora vem o tratamento pós-operatório, a base de remédios amargos para garantir que a infecção e os vermes não voltem a atacar a saúde do agora cidadão saudável. Apesar de todo suturado, o “Rondônia” ri feliz sem os dentes. Está livre da doença.


Cabe a nós, moradores deste Estado terminar o trabalho iniciado pela Federal. Cabe a nós, escolher melhor os novos representantes. A nominata da Polícia foi bem divulgada. Para eles o ostracismo. Quiçá cadeia.

Os poderes que tiveram a honra arranhada, a imagem maculada perante a opinião pública estão com o dever de mostrar trabalho e provar que não são da mesma laia.

Vamos recomeçar a construção do nosso Estado.

2 comentários:

Anônimo disse...

A mais pura e inteligente verdade Andreolli, AGORA CABE A NÓS, tirarmos a putrefação que se instalou nos "poderes" do Estado de Rondônia. Aqui no interior, carros continuam vergonhosamente a passear com o nome de KK, porém já são vistos com maus olhos...um alívio !! Resta agora saber quando os 100 milhoes serão devolvidos (se é que serão). Lembrando que ...as mansões, os carrões importados e as fazendas dos "deputados" continuam por aqui, como se nada tivesse acontecido.

Anônimo disse...

Eu só espero que quando o tal Carlão for libertado não haja mesmo a grande carreata para festejar o seu retorno, porque se isso acontecer, aí sim, eu saberei que Rondônia merece os políticos que têm.